O homem
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Filho, me leve lá fora
Eu
já sabia onde levar ele. Toda vez que a lua está cheia e brilha no céu, ele
fica no mesmo lugar, em frente ao portão de casa. Eu fico sentado no outro lado
da rua no gramado em silêncio esperando ele admirar aquela lua. Fico imaginando,
o que será que ele está pensando. No vazio que é sua vida? No próximo romance
que irar escrever? Ou no futuro? Sei lá. Eu balanço minha cabeça na tentativa
de esquecer, aquilo que pensei. Admiro aquele homem sentado naquela cadeira de
rodas, preta com cinza, enferrujada com o passar dos anos. Quando eu tinha meus
nove anos, pensei que aquele homem sentado naquele treco de rodas não fosse meu
pai. Sua vida não foi igual a minha, que quando era jovem sempre saía e não
tinha hora para voltar. Ele me conta que seu sonho era ser escritor conhecido e
ter uma família. Suas pernas e braços nunca o obedeceram devido à lesão,
somente o seu intelecto é preservado. Nunca vi meu pai triste, ele é poeta,
escritor e é formado em jornalismo. Minha avó o acompanhava na universidade
diariamente. Mas ele nunca trabalhou na área ou trabalhou? Não perguntei. O
homem gosta mesmo é de escrever suas poesias, crônicas e romances. Meu pai além
de admirar a lua, gosta de ficar observando o brilho das estrelas, ele diz que
as estrelas são anjos. Meu pai nunca reclamou de viver em cima de rodas. O
homem está com cinquenta anos, ele nunca me disse o que havia causado a sua
lesão que o deixara assim. Bem nunca tive a curiosidade, não é que não me
importe, simplesmente não tenho necessidade em saber. Apesar de que ele não me
ensinou a jogar bola, soltar pipa e andar de bicicleta. Hoje agradeço por ter
me ensinado a gostar de ler.
(Marcio
S.P Taniguti)