domingo, 3 de abril de 2022

Crônica

 O homem

- Filho, me leve lá fora

Eu já sabia onde levar ele. Toda vez que a lua está cheia e brilha no céu, ele fica no mesmo lugar, em frente ao portão de casa. Eu fico sentado no outro lado da rua no gramado em silêncio esperando ele admirar aquela lua. Fico imaginando, o que será que ele está pensando. No vazio que é sua vida? No próximo romance que irar escrever? Ou no futuro? Sei lá. Eu balanço minha cabeça na tentativa de esquecer, aquilo que pensei. Admiro aquele homem sentado naquela cadeira de rodas, preta com cinza, enferrujada com o passar dos anos. Quando eu tinha meus nove anos, pensei que aquele homem sentado naquele treco de rodas não fosse meu pai. Sua vida não foi igual a minha, que quando era jovem sempre saía e não tinha hora para voltar. Ele me conta que seu sonho era ser escritor conhecido e ter uma família. Suas pernas e braços nunca o obedeceram devido à lesão, somente o seu intelecto é preservado. Nunca vi meu pai triste, ele é poeta, escritor e é formado em jornalismo. Minha avó o acompanhava na universidade diariamente. Mas ele nunca trabalhou na área ou trabalhou? Não perguntei. O homem gosta mesmo é de escrever suas poesias, crônicas e romances. Meu pai além de admirar a lua, gosta de ficar observando o brilho das estrelas, ele diz que as estrelas são anjos. Meu pai nunca reclamou de viver em cima de rodas. O homem está com cinquenta anos, ele nunca me disse o que havia causado a sua lesão que o deixara assim. Bem nunca tive a curiosidade, não é que não me importe, simplesmente não tenho necessidade em saber. Apesar de que ele não me ensinou a jogar bola, soltar pipa e andar de bicicleta. Hoje agradeço por ter me ensinado a gostar de ler.

 

(Marcio S.P Taniguti)


sábado, 7 de maio de 2016

O Grão

Crônica, segunda parte.

O inverno já terminou. E o Grão? Achou seu eterno amor? Vamos descobrir ao longo do texto. Começo a crônica com essa porcaria de frase que fiz, “o inverno não é inverno, se fosse inverno estaria nu”. O que significa? Não sei. Poético? Acho que não. “O vazio é sua solidão, que talvez você vá viver ou está vivendo”.
- Mais uma frase louca como essa e vou parar de ler; se continuar escrevendo essas porcarias, vou me separar de você.
- Está bem, meu amor. Eu vivo na solidão mesmo. Eterna solidão.
O Grão por um momento pensou que acharia seu eterno amor, mas não. Foi apenas uma paixão de inverno, que acaba com o aparecimento da primeira folha da primavera. O Grão vai ter que passar todo o verão naquela doce montanha, que chato! “Foi a minha escolha”. O inverno e a primavera já passaram, o verão está insuportável nesse quarto/pote, tomara que passe alguém e derrube esse maldito pote. Alguém quem? Um cachorro, um gato ou uma moça nua, aquela a quem eu abri meu coração e não tive resposta. Sei lá. Já estou cansado de escrever versos, não tenho mais 27 anos, hoje tenho 30, minha memória não é a mesma de 10 anos atrás. Já está na hora de parar com os versos? Acho que não. Lembro-me da primeira poesia que fiz em 2009, bela. Bela é a moça do cabelo longo, como o trecho da musica da banda Pull Down diz, “linda como sempre sonhei”. Tão linda que o poeta pode morrer que vai se lembrar dela no céu. Mas ninguém derrubou o pote ainda, ele não pode ver a cor do sol, como o poeta escreveu nesse trecho da sua mera poesia, “talvez um dia vá ver o sol/Nascer entre as montanhas/Ver de que cor é o céu...”.  Talvez a mesma moça que não gostou das frases volte, e seja o seu eterno amor. O vento pode voltar, assim como a moça pode ficar nua para ele, por que não? Lá fora a chuva cai naquela terra seca, o cheiro do pó invade o pote, fazendo com que o poeta adormeça naquela doce montanha. Já amanheceu, ouço passos na cozinha, a senhora coloca água no bule. A água começa a ferver, ela pega o pote de café que está do meu lado, ouço gritos de socorro. Não posso fazer nada, pois estou preso. Só posso rezar. Então rézo. Está chegando minha vez, fico com medo da colher. Será que chegou minha vez de ver o estômago do homem por dentro? Não quero morrer agora. Agora que achei meu amor, não posso morrer, quero ter filhos com ela. Ufa, tudo não passou de um pesadelo. Ele está com a esperança renovada de um dia poder viver fora do pote e parar de ter medo da colher.


(Marcio S.P Taniguti)

sábado, 30 de abril de 2016

O Poeta

Crônica, primeira parte.

Mais uma vez o inverno chega, ele está tão só como um grão solitário de sal no meio da montanha de açúcar. Grão, vou chamá-lo de Grão. Mas Grão não está tão só assim, no coração dele há Deus/Oxalá e há esperança no meio daquela montanha doce. Não há tristeza em seu rosto nem no vazio do seu olhar, um poeta já escreveu: “Os poetas não são imortais/São apenas simples homens/Que fazem a vida sorrir.”. O moço/Grão também escreve versos, mas ele não se considera “o poeta”. A vida dele, não é como a sua, meu caro leitor, ou é? A vida do Grão é normal, mas nem tudo, você vai descobrir ao longo do texto. Para ele a vida não é só essa, vai muito além. O Grão tem uma frase que traduz: “Você pode até não se lembrar do que você escolheu para viver nessa vida, mas acredite o que você está passando ou vai passar foi a tua escolha”. O Grão não acredita no acaso, para ele o livre arbítrio não é tão livre assim. O poeta de 27 anos é livre, mas não pode ir aos lugares onde deseja ir só. Livre, só em pensamento. Mas sempre que quer ir a algum lugar, tem que ir acompanhado. Você deve estar pensando, que chato! Também acho, mas se pararmos para pensar no final da frase dele, o poeta tem razão, “... foi a tua escolha”, o Grão não abaixa a cabeça tão fácil, quando ele quer, algo vai até seu o limite, se não consegue não se lamenta. Já descobriu de quem estou falando? Ele gosta de admirar a Lua, se pudesse ficar a noite inteira olhando a Lua, ele ficava. O poeta acredita no amor eterno e não em alma gêmea, ele diz que: “se for gêmea é a tua própria alma”. Será? Como já dizia a famosa frase de Philipe Sotteb: “De poeta e louco todo mundo tem um pouco, afinal... na real... não faz muita diferença.”. Afinal o Grão é poeta, então ele é louco. Já peguei o moço falando sozinho, será que fala com os Guias? Como vou saber? Nunca perguntei. O Grão tem esperança que, ao fim desse inverno, encontre seu eterno amor no meio daquela montanha de açúcar. Depois de longo tempo, ele aprendeu que tudo tem sua hora certa e ninguém fica sozinho nessa vida. Em seu coração a fé e a esperança nunca vão acabar. Chega, vou revelar quem é o Grão solitário. Ele não anda, se locomove através de rodas, cadeira de rodas, não gosta da palavra coitado, não acredita em macumba, é simpático, tem dois livros lançados e tem paralisia cerebral, copiando o nome da musica do rei Roberto Carlos, esse cara sou eu. Ou melhor, esse Grão sou eu. Por fim um trecho da musica do O Teatro Mágico, que pode ou não ajudar entender esse texto.

... Mas eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso
E o meu paraíso é onde estou
Eu não sei... na verdade quem eu sou


(Marcio S.P Taniguti)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Ecos do Tempo de Marcio Taniguti

Novo livro “Ecos do Tempo” de Marcio Sakyo Poffo Taniguti. A obra nos transporta para uma atmosfera rodeada de sentimentos do autor. É uma leitura leve, em que o leitor poderá descobrir os anseios do poeta. O livro reúne 80 poemas.


Serviço:


 Você encontra nas Livrarias Curitiba ou com autor

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Uma vida construída na superação da hipocrisia

Perfil

Uma cadeira de roda, um ser humano e muitos sonhos. Marcio é daqueles jovens que a sociedade insiste em desistir. Aos 27 anos, carrega no corpo marcas que acumulou durante toda sua vida. Devido uma complicação no parto, a falta de oxigenação no cérebro ocasionou a perda total da coordenação motora, devido a paralisia cerebral. Para muitos, o primeiro passo para o conformismo e comodidade. Para Marcio, o primeiro passo para sua especial vida.

Em uma sociedade preconceituosa, Marcio enfrentou muitas barreiras para chegar até a faculdade. A primeira delas foi na escola. Para ingressar nas escolas regulares, devido à deficiência, os candidatos, na época, deveriam passar por avaliação dividida em três etapas, na Secretaria de Educação. “Eu só fui uma vez e mesmo assim ela achava que eu não ia me adaptar junto às outras crianças”. Sem ao menos conhecer a capacidade do jovem, a entrevistadora julgou-lhe incapaz de cursar o ensino regular.

Após muita luta para a inclusão, Marcio conseguiu frequentar o colégio e foi recebido com muito carinho pelos colegas de classe. Durante todo o período letivo, foi acompanhado por profissionais que assistiam toda sua evolução. Aos poucos foi se enturmado e conhecendo mais pessoas. Mas o preconceito sempre lhe acompanhou de perto e mais uma vez sofreu com isso. “Quando entrei na escola regular, vi o preconceito por parte das mães dos colegas. Elas tinham medo que eu passasse alguma doença para seus filhos, mas eu não ligava!”.

A falta de conhecimento e a ignorância foram fatores fundamentais para problematizar a inclusão. “Hipocrisia”, esta é a palavra que o jovem define o preconceito que viveu e viu durante todo o período. O importante que essas intervenções não influenciaram os sonhos de Marcio. O jovem prosseguiu na trajetória escolar até concluir o ensino médio. Prestou vestibular para Jornalismo e pretende finalizar o curso em 2015.

Amante de literatura, Marcio já escreveu dois livros de poesias: Meus primeiros passos (2011) e Ecos do Tempo (2015).  Encontra inspiração nos sentimentos que se confronta no dia a dia. “Não posso limitar minha inspiração a determinadas coisas. Nem todos os dias eu consigo escrever, mas nos dias que escrevo, é sobre alguma situação que aconteceu, algum sentimento, alguma música que ouvi e as palavras simplesmente vão surgindo”.

É apaixonado por romance policial e filmes de ação. Odeia a utilização do termo “coitado”. Nunca se viu assim. “A minha família nunca me escondeu, pelo contrário, sempre me incentivaram. Eu sempre tive comigo a frase: ‘eu sou capaz’”. É um jovem que adora admirar a lua, o mar e as montanhas.

Marcio é um jovem como qualquer outro e tem vários sonhos. Finalizar a faculdade, escrever mais livros de poemas, escrever romance policial, mas o mais bonito de todos é seu desejo de constituir uma família. E essa vontade de amar não pode ser tirada dele. Mais amor!


Texto: Marcos Dias

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Marcio Taniguti lança seu segundo livro

Após, “Meus Primeiros Passos”, Marcio continua a caminhada. Agora lança o seu segundo livro, intitulado, “Ecos do Tempo”, pela editora Máquina de Escrever. O livro em formato de bolso reúne 80 poemas. A obra nos transporta para uma atmosfera rodeada de sentimentos do autor. É uma leitura leve, em que o leitor poderá descobrir os anseios do poeta.  

Serviço


Lançamento dia 17 de agosto, às 19h
Local: UniBrasil – Auditório Glaci Zancan (Bloco 04)

Endereço: Rua Konrad Adenauer, 442 – Tarumã, Curitiba
Realização: UniBrasil e Maquina de Escrever Editora
Entrada gratuita

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Entrevista com o autor do livro “Meus Primeiros Passos” Marcio Taniguti


Marcio Sakyo Poffo Taniguti, nasceu no ano de 1988, em Ascurra, Santa Catarina. Devido a complicação no parto, teve Paralisia Cerebral que afetou a sua coordenação motora. Desde 1992 passou a residir em Pinhais, município da região metropolitana de Curitiba no Paraná. Em 2010 entrou na universidade e está hoje no 7º período do curso de Jornalismo. No ano de 2011, lançou seu primeiro livro de poemas, intitulado “Meus Primeiros Passos”.


Como você vê a cultura da leitura no Brasil?

A falta de divulgação de lançamento de novos livros, novos escritores, o valor para a publicação e principalmente o preço dos exemplares, desestimulam a leitura. Isso torna o Brasil a dever com relação à cultura da leitura.

Que gênero de livro você prefere?
               
É difícil definir, gosto de todos os gêneros, mas ultimamente estou lendo mais romance policial e suspense.

 Quais escritores de romance preferidos?

Jo Nesbo e Cristovão Tezza


E quais seus poetas preferidos?

Vinicius de Moraes, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector

Tem algum poeta que te inspira?

Não. Eu tenho estilo próprio.

Torce por algum time de futebol?

Não curto futebol.

Uma coisa que te deixa muito irritado?

A falta de respeito com idosos e deficientes nas filas dos caixas e nos estacionamentos dos supermercados, bancos e outros.

Se você pudesse mudar 3 coisas para melhorar o Brasil, o que você mudaria?

Primeiro melhoraria o serviço publico, a educação, a saúde e a segurança. O Brasil peca muito nessas áreas. Segundo, criaria um padrão nacional para as calçadas, com melhor mobilidade para os cadeirantes, e mais segura para as pessoas. Terceiro, melhoraria o transporte urbano, para que as pessoas não dependessem tanto dos próprios carros.
  
Qual é o seu maior sonho?

Ter a minha família.

O que você gosta de fazer nas horas vagas?

Assistir filmes, ler, escrever, ouvir musica e sair.