Perfil
Uma cadeira de roda, um
ser humano e muitos sonhos. Marcio é daqueles jovens que a sociedade insiste em
desistir. Aos 27 anos, carrega no corpo marcas que acumulou durante toda sua
vida. Devido uma complicação no parto, a falta de oxigenação no cérebro
ocasionou a perda total da coordenação motora, devido a paralisia cerebral.
Para muitos, o primeiro passo para o conformismo e comodidade. Para Marcio, o
primeiro passo para sua especial vida.
Em uma sociedade
preconceituosa, Marcio enfrentou muitas barreiras para chegar até a faculdade.
A primeira delas foi na escola. Para ingressar nas escolas regulares, devido à
deficiência, os candidatos, na época, deveriam passar por avaliação dividida em
três etapas, na Secretaria de Educação. “Eu só fui uma vez e mesmo assim ela
achava que eu não ia me adaptar junto às outras crianças”. Sem ao menos
conhecer a capacidade do jovem, a entrevistadora julgou-lhe incapaz de cursar o
ensino regular.
Após muita luta para a
inclusão, Marcio conseguiu frequentar o colégio e foi recebido com muito
carinho pelos colegas de classe. Durante todo o período letivo, foi acompanhado
por profissionais que assistiam toda sua evolução. Aos poucos foi se enturmado
e conhecendo mais pessoas. Mas o preconceito sempre lhe acompanhou de perto e
mais uma vez sofreu com isso. “Quando entrei na escola regular, vi o
preconceito por parte das mães dos colegas. Elas tinham medo que eu passasse
alguma doença para seus filhos, mas eu não ligava!”.
A falta de conhecimento
e a ignorância foram fatores fundamentais para problematizar a inclusão.
“Hipocrisia”, esta é a palavra que o jovem define o preconceito que viveu e viu
durante todo o período. O importante que essas intervenções não influenciaram
os sonhos de Marcio. O jovem prosseguiu na trajetória escolar até concluir o
ensino médio. Prestou vestibular para Jornalismo e pretende finalizar o curso
em 2015.
Amante de literatura,
Marcio já escreveu dois livros de poesias: Meus primeiros passos (2011)
e Ecos do Tempo (2015). Encontra inspiração nos
sentimentos que se confronta no dia a dia. “Não posso limitar minha inspiração
a determinadas coisas. Nem todos os dias eu consigo escrever, mas nos dias que
escrevo, é sobre alguma situação que aconteceu, algum sentimento, alguma música
que ouvi e as palavras simplesmente vão surgindo”.
É apaixonado por romance
policial e filmes de ação. Odeia a utilização do termo “coitado”. Nunca se viu
assim. “A minha família nunca me escondeu, pelo contrário, sempre me
incentivaram. Eu sempre tive comigo a frase: ‘eu sou capaz’”. É um jovem que
adora admirar a lua, o mar e as montanhas.
Marcio é um jovem como
qualquer outro e tem vários sonhos. Finalizar a faculdade, escrever mais livros
de poemas, escrever romance policial, mas o mais bonito de todos é seu desejo
de constituir uma família. E essa vontade de amar não pode ser tirada dele.
Mais amor!
Texto: Marcos Dias